ZOOTROPO: UMA HOMENAGEM AO CINEMA

Um programa cultural/cinematográfico chamado Zootropo, que resgata a memória do cinema brasileiro, produzido e apresentado por um grande e pesquisador do assunto, o radialista Rafael Spaca.

Rafael Spaca e José Mojica Marins, o "Zé do Caixão Foto: Divulgação

Rafael Spaca e José Mojica Marins, o “Zé do Caixão
Foto: Pipol

Spaca, qual é a origem do nome e da ideia?

Zootropo vem do grego ζωή (zoe = vida) + τρόπος(tropos = giro, roda), composta por um tambor circular com pequenas janelas recortadas, através das quais o espectador olha para desenhos dispostos em tiras. Ao girar, o tambor cria uma ilusão de movimento aparente. Foi o embrião para a criação do cinema como o conhecemos hoje.

O conceito do programa – desde o nome até os convidados – é uma homenagem ao cinema.

Como resultado desse trabalho de resgate e divulgação, principalmente do cinema paulista, você já tem um livro publicado – Curtametragem – e um blog – Os Curtos Filmes. Fale um pouco sobre eles.

O Zootropo é uma porta aberta para todos os nomes, de realizadores em todas as funções no organograma do cinema, de ontem, de hoje, do futuro e de sempre. Nossa ideia é oportunizar ao público o contato com histórias e aproximar esses realizadores do seu público, sob outro espectro, o humano.

O livro, o programa e o blog, apesar de serem plataformas comunicativas bem distintas, convergem na mesma direção: o interesse em falar do nosso cinema.

Helena Ignez “inaugurou” seu blog (que hoje tem 7 anos de existência) e ela também “lançou” o Zootropo. É coincidência?

Não. Helena Ignez acreditou em mim desde o primeiro instante. Recordo-me quando, mesmo sem ter o blog no “ar” ainda, solicitei a entrevista. Ela me recebeu em sua produtora, cheia de energia. Ali, vendo seu amor pelo cinema, sua fala cheia de paixão, tive a certeza que o blog iria dar certo.

Como desejo o mesmo para o Zootropo, que o programa tenha uma vida longa, nada mais justo e supersticioso que convidá-la para a estreia do programa. (risos). Helena Ignez me traz sorte!

O formato do Zootropo foge do clichê dos tradicionais “talk shows” já a partir da ambientação e do cenário onde é gravado e oferece muito mais conteúdo do que meramente informações sobre a trajetória profissional dos entrevistados. Qual é a dinâmica de produção do programa e como são escolhidos os convidados?

Quero salientar aqui a inestimável parceria que o Reserva Cultural (que possui a programação de cinema mais instigante da cidade) nos oferece. A combinação de cenários, o charme do local com a Avenida Paulista ao fundo, conferem uma atmosfera fantástica ao programa. Se houvesse um prêmio de fotografia para programas na Internet, seríamos sempre premiados! (risos).

Em relação à questão das entrevistas, sim, buscamos um enfoque além cinema. Procuramos saber como foi construída a trajetória até o profissional chegar ali. São histórias que inspiram e nos permitem ter fé, porque nada é fácil nessa área.

Quantas pessoas estão envolvidas no processo de produção do programa?

Pipol é o diretor, editor, articulador e produtor, ou seja, ele é a alma do Zootropo. Um profissional de excelência, um amigo no sentido stricto sensu da palavra. É uma honra conviver com ele durante esse processo. O aprendizado é constante. É um intelectual da vanguarda, que fica na linha de frente, produz. Não à toa, idealizou o Portal Cronópios, um respiro profundo na cultura.

Contamos também com o Paulo Sposati Ortiz, Jorge Miyashiro e o Roberto Ventura. O Zootropo me deu a sorte de conhecê-los. Eles também produzem o programa e se encarregam do áudio. É muito bom trabalhar com todos eles.

É um programa difícil de produzir?

O difícil é conciliar as agendas dos entrevistados com as nossas. Cada um de nós trabalha em um ramo de atividade, não vivemos exclusivamente em função do programa. Fazemos um malabarismo para dar conta de tudo. O mais bacana de tudo é que, no final, após as gravações, confraternizamos, parece uma reunião de velhos amigos.

Qual é o suporte técnico de que você dispõe para a gravação do programa?

Toda a estrutura do Reserva Cultural e a estrutura da TV Cronópios, que cresce a cada dia e amplia o seu raio de alcance, com novos programas e formatos. Pipol é um profissional muito atento com as tendências da tecnologia, não devemos – em matéria de equipamento – para nenhuma produtora. Aliás, o Zootropo poderia muito bem ocupar a grade de programação de algum canal – aberto ou fechado.

Quais as perspectivas para o programa no próximo ano?

Partir para a terceira temporada. Hoje o Zootropo virou uma referência, sabemos da importância dele e da nossa responsabilidade em produzir um programa que cultiva o cinema nacional.

Tem algum nome que sonha em entrevistar?

A lista seria enorme. Já entrevistamos cineastas, atores, atrizes, diretora de fotografia, figurante e produtor. Tenho vontade de conversar com um crítico de cinema.

Onde ele pode ser visto e qual a sua periodicidade?

O programa pode ser visto no Portal Cronópios (http://cronopios.com.br/). Lá, além do Zootropo, o leitor terá a oportunidade de adentrar ao universo cronopiano, na literatura, ficção cientifica, etc. O céu é o limite!

E quando acontecerá de, o produtor de conteúdo se transformar num realizador cinematográfico?

Esse dia está perto. Em breve irei lançar meu primeiro curta-metragem. É uma animação chamada “Cacareco agora é Excelência”, que narra a votação do rinoceronte Cacareco aqui em São Paulo. Foi pra ele o primeiro voto de protesto no Brasil. Toda a produção é da Elixir Entretenimento.

O que de mais interessante tem sido feito com cinema no país?

Estou muito curioso para conhecer o “Cinesthesia”, que o Cine Jóia irá promover em breve. Parece que eles estão criando uma nova plataforma de fruição audiovisual, com amplos estímulos. Facundo Guerra, um profissional que admiro muito, é inquieto e tenho certeza que será capaz de romper com esse cânone chamado cinema.

Atualmente há um movimento envolvendo artistas, técnicos e outros trabalhadores da indústria cinematográfica paulista, que pretende resgatar a importância do polo cinematográfico paulista – chamado Cinema Boca do Lixo, que viveu sua melhor fase de produção principalmente na Rua do Triunfo, no centro de São Paulo. Você é um dos articuladores desse movimento junto com várias pessoas. Fale sobre o projeto “Rua do Triunfo, a Volta. Eu apoio”, quem está com você e como as pessoas podem se engajar e aderir à ideia.

Queremos que a Rua do Triunfo volte aos seus dias de glória. Que a cultura seja a presença constante lá. O que passou, passou. Impossível reviver aqueles momentos mágicos, mas é possível dar uma nova significação à Rua do Triunfo, com mais companhias de teatro ocupando os sobrados (hoje a Cia. Pessoal do Faroeste está lá fazendo um trabalho fantástico). Ficar parado não adianta. Decidimos ser protagonistas da mudança e convidar a todos para participarem deste processo. A Rua do Triunfo é a via mais importante da história do cinema mundial. É inconcebível vê-la sem vida, sem referências do seu passado. Precisamos salvaguardar a história que dela, todos nós – direta ou indiretamente – fazemos parte.

Estamos com várias propostas. Queremos tomba-la como patrimônio histórico, criar o Centro de Memória e Pesquisa da Boca do Lixo (que contaria com uma biblioteca de referência, sala de cinema, museu, café, etc.), fazer o aterramento da fiação elétrica, incentivar produtoras de cinema a ocupar os sobrados, assim como artistas visuais e produções teatrais. O trabalho nos estimula. A adesão é incrível. Nós vamos conseguir.

A coordenação do projeto é minha, do Paulo Faria e Elaine Bortolanza (ambos da cia. Pessoal do Faroeste) e da Noelle Pine (mítica atriz da Boca do Lixo). A porta está aberta para todos, vamos montar as diretorias, conselhos e quanto mais adesões, mais força teremos.

Em novembro iremos promover na própria Rua do Triunfo o segundo encontro do projeto, desta vez homenageando as eternas musas da Boca. Logo teremos novidades.

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